Dos oito
aeroportos administrados pela Infraero com previsão de obras para a Copa
do Mundo, nenhum ficará 100% pronto antes do início da competição,
daqui a 29 dias.
São eles: Afonso Pena (Curitiba), Confins (Belo Horizonte), Deputado
Luís Eduardo Magalhães (Salvador), Eduardo Gomes (Manaus), Galeão (Rio
de Janeiro), Marechal Rondon (Cuiabá), Pinto Martins (Fortaleza) e
Salgado Filho (Porto Alegre).
O levantamento da reportagem foi feito com base na "matriz de
responsabilidades", documento no qual o Brasil lista o que pretende
fazer para a Copa, e em informações da Infraero – que já trabalha
oficialmente com dois cronogramas para as obras, um pré e outro pós
Copa, nos aeroportos que administra.
Os atrasos mais graves estão em Fortaleza, Porto Alegre e Curitiba.
Na capital cearense, seguidos atrasos na obra fizeram o governo federal
romper o contrato com a vencedora da licitação e recorrer a um terminal
provisório de lona para atender aos turistas durante a competição. O
módulo operacional deve ficar pronto neste mês e, depois de 90 dias, a
estrutura será desativada.
No Rio Grande do Sul e no Paraná, as intervenções para a Copa ficarão prontas apenas em 2016 – ano da Olimpíada no Rio.
Ficaram para depois da Copa a ampliação do terminal de passageiros do
Salgado Filho e a ampliação das salas de embarque e desembarque, das
áreas comerciais do saguão, da praça de alimentação e as adequações
viárias de acesso.
Quando o Brasil foi escolhido para sediar a Copa do Mundo, em 2007, os
aeroportos eram a maior preocupação dos organizadores. Sete anos depois,
nenhum dos aeroportos administrados pela Infraero terão todas as obras
prometidas na matriz de responsabilidade da Copa –e mesmo os aeroportos
privatizados têm problemas.
Nos casos de Galeão (RJ) e Confins (MG), o leilão de concessão ocorreu
no fim do ano passado, e o contrato foi assinado no começo deste ano. O
plano de transição, assim como ocorreu com Cumbica, JK e Viracopos,
prevê que esses aeroportos continuem a ser administrados pela Infraero
por mais seis meses. Então as concessionárias assumirão eles, de fato,
só depois da Copa.
30,5% CONCLUÍDO
Inicialmente, eram previstas 36 intervenções em 13 aeroportos do país na primeira versão do documento, de 2010.
Alguns aeroportos tinham mais de uma obra prevista, como Confins, e
outros, apenas uma, como Manaus, mas mesmo os que tinham apenas uma obra
prevista não conseguirão concluí-las a tempo.
Das 36 intervenções previstas, dez foram abandonadas (28%). São obras
nos aeroportos Gilberto Freyre (Recife) – que teria uma nova torre de
controle –, Cumbica (Guarulhos), Juscelino Kubitschek (Brasília) e
Viracopos (Campinas) – concedidos à iniciativa privada em 2012.
Apenas 11 estão concluídas (30,5%), quatro estão incompletas (11%) –mas
ainda assim dentro do prazo, segundo a Infraero– e outras 11 ficarão
prontas só depois da Copa (30,5%).
Dos aeroportos privatizados, Viracopos deve ser o único a não entregar
as obras no prazo, que era domingo (11). Agora, a concessionária que
administra o aeroporto (Aeroportos Brasil) corre para inaugurar até a
Copa o novo pátio de aeronaves, que servirá como "estacionamento" para
aviões executivos.
O novo terminal ficará pronto só depois da competição, e os passageiros
de voos internacionais e domésticos continuarão a embarcar e desembarcar
pelo atual terminal. A multa por ter descumprido o contrato de
concessão pode chegar a até R$ 170 milhões, mais R$ 1,7 milhão por dia
de atraso.
OUTRO LADO
Responsável pelas obras em oito aeroportos, dos quais nenhum ficará
pronto antes da Copa, a Infraero afirma que todos eles têm capacidade
superior à demanda de passageiros. Diz também que priorizou intervenções
em áreas de atendimento aos passageiros, como saguão e salas de
embarque e desembarque, "de forma que essas obras ficassem prontas para
garantir o atendimento da demanda com conforto e segurança".
A Aeroportos Brasil, concessionária que administra Viracopos, informou
que, "apesar do pequeno atraso nas obras do novo terminal, o aeroporto
estará preparado para receber as delegações e autoridades durante a Copa
do Mundo".
Em visita às obras atrasadas de Viracopos, o ministro Moreira Franco (Aviação Civil) minimizou ontem os atrasos.
"As obras continuam. Elas vão continuar e vão ficar prontas. Das obras
que foram previstas, algumas foram entregues, outras não. As que não
foram entregues serão entregues não por causa da Copa, mas porque nós
precisamos de uma infraestrutura aeroportuária que suporte o aumento de
demanda, do número de passageiros", disse.
"Hoje, os aeroportos brasileiros – inclusive Viracopos – estão prontos
para atender as necessidades da Copa. Isso é o que importa, não se a
obra ficou pronta ou a obra não ficou pronta", afirmou o ministro.
Para Guilherme Ramalho, secretário-executivo da SAC (Secretaria de
Aviação Civil), "não há preocupação nenhuma" com a Copa do Mundo porque o
"grande desafio" é o crescimento da demanda interna.
"A realidade de obras nos aeroportos não podem ser pensadas só para a
Copa do Mundo. Saímos de 30 para 100 milhões de passageiros
transportados em dez anos e vamos triplicar esse número, de novo, nos
próximos dez. O nosso grande desafio é atender a essa demanda."
Lucas Sampaio
Folha de S. Paulo
Editado por Folha Política