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quarta-feira, 14 de maio de 2014

Nenhum aeroporto da Infraero ficará 100% pronto para a Copa

Dos oito aeroportos administrados pela Infraero com previsão de obras para a Copa do Mundo, nenhum ficará 100% pronto antes do início da competição, daqui a 29 dias.
 
São eles: Afonso Pena (Curitiba), Confins (Belo Horizonte), Deputado Luís Eduardo Magalhães (Salvador), Eduardo Gomes (Manaus), Galeão (Rio de Janeiro), Marechal Rondon (Cuiabá), Pinto Martins (Fortaleza) e Salgado Filho (Porto Alegre).
O levantamento da reportagem foi feito com base na "matriz de responsabilidades", documento no qual o Brasil lista o que pretende fazer para a Copa, e em informações da Infraero – que já trabalha oficialmente com dois cronogramas para as obras, um pré e outro pós Copa, nos aeroportos que administra.
Os atrasos mais graves estão em Fortaleza, Porto Alegre e Curitiba.
 
Na capital cearense, seguidos atrasos na obra fizeram o governo federal romper o contrato com a vencedora da licitação e recorrer a um terminal provisório de lona para atender aos turistas durante a competição. O módulo operacional deve ficar pronto neste mês e, depois de 90 dias, a estrutura será desativada.
No Rio Grande do Sul e no Paraná, as intervenções para a Copa ficarão prontas apenas em 2016 – ano da Olimpíada no Rio.
Ficaram para depois da Copa a ampliação do terminal de passageiros do Salgado Filho e a ampliação das salas de embarque e desembarque, das áreas comerciais do saguão, da praça de alimentação e as adequações viárias de acesso.
Quando o Brasil foi escolhido para sediar a Copa do Mundo, em 2007, os aeroportos eram a maior preocupação dos organizadores. Sete anos depois, nenhum dos aeroportos administrados pela Infraero terão todas as obras prometidas na matriz de responsabilidade da Copa –e mesmo os aeroportos privatizados têm problemas.
Nos casos de Galeão (RJ) e Confins (MG), o leilão de concessão ocorreu no fim do ano passado, e o contrato foi assinado no começo deste ano. O plano de transição, assim como ocorreu com Cumbica, JK e Viracopos, prevê que esses aeroportos continuem a ser administrados pela Infraero por mais seis meses. Então as concessionárias assumirão eles, de fato, só depois da Copa.
30,5% CONCLUÍDO
Inicialmente, eram previstas 36 intervenções em 13 aeroportos do país na primeira versão do documento, de 2010.
 
Alguns aeroportos tinham mais de uma obra prevista, como Confins, e outros, apenas uma, como Manaus, mas mesmo os que tinham apenas uma obra prevista não conseguirão concluí-las a tempo.
Das 36 intervenções previstas, dez foram abandonadas (28%). São obras nos aeroportos Gilberto Freyre (Recife) – que teria uma nova torre de controle –, Cumbica (Guarulhos), Juscelino Kubitschek (Brasília) e Viracopos (Campinas) – concedidos à iniciativa privada em 2012.

Apenas 11 estão concluídas (30,5%), quatro estão incompletas (11%) –mas ainda assim dentro do prazo, segundo a Infraero– e outras 11 ficarão prontas só depois da Copa (30,5%).
Dos aeroportos privatizados, Viracopos deve ser o único a não entregar as obras no prazo, que era domingo (11). Agora, a concessionária que administra o aeroporto (Aeroportos Brasil) corre para inaugurar até a Copa o novo pátio de aeronaves, que servirá como "estacionamento" para aviões executivos.
O novo terminal ficará pronto só depois da competição, e os passageiros de voos internacionais e domésticos continuarão a embarcar e desembarcar pelo atual terminal. A multa por ter descumprido o contrato de concessão pode chegar a até R$ 170 milhões, mais R$ 1,7 milhão por dia de atraso.
OUTRO LADO
 
Responsável pelas obras em oito aeroportos, dos quais nenhum ficará pronto antes da Copa, a Infraero afirma que todos eles têm capacidade superior à demanda de passageiros. Diz também que priorizou intervenções em áreas de atendimento aos passageiros, como saguão e salas de embarque e desembarque, "de forma que essas obras ficassem prontas para garantir o atendimento da demanda com conforto e segurança".
 
A Aeroportos Brasil, concessionária que administra Viracopos, informou que, "apesar do pequeno atraso nas obras do novo terminal, o aeroporto estará preparado para receber as delegações e autoridades durante a Copa do Mundo".
 
Em visita às obras atrasadas de Viracopos, o ministro Moreira Franco (Aviação Civil) minimizou ontem os atrasos.
 
"As obras continuam. Elas vão continuar e vão ficar prontas. Das obras que foram previstas, algumas foram entregues, outras não. As que não foram entregues serão entregues não por causa da Copa, mas porque nós precisamos de uma infraestrutura aeroportuária que suporte o aumento de demanda, do número de passageiros", disse.
 
"Hoje, os aeroportos brasileiros – inclusive Viracopos – estão prontos para atender as necessidades da Copa. Isso é o que importa, não se a obra ficou pronta ou a obra não ficou pronta", afirmou o ministro.
 
Para Guilherme Ramalho, secretário-executivo da SAC (Secretaria de Aviação Civil), "não há preocupação nenhuma" com a Copa do Mundo porque o "grande desafio" é o crescimento da demanda interna.
 
"A realidade de obras nos aeroportos não podem ser pensadas só para a Copa do Mundo. Saímos de 30 para 100 milhões de passageiros transportados em dez anos e vamos triplicar esse número, de novo, nos próximos dez. O nosso grande desafio é atender a essa demanda." 
 
Lucas Sampaio 
Folha de S. Paulo
Editado por Folha Política